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Estudos sobre estoque de carbono podem gerar renda para indígenas de Mato Grosso

Por Kurâdomôdo, Lygia Lima
27/12/2021

Cacique Xavante e pesquisadores na Aldeia Belém (Foto: Instituto Kurâdomôdo Cultura Sustentável de Cuiabá)

O Projeto Piloto Poço de Carbono Aldeia Belém que integra o Projeto Aldeia Sustentável - A’uwë Uptabi, elaborado pelo Instituto Kurâdomôdo Cultura Sustentável de Cuiabá, está sendo executado em parceria com a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). Estudos sobre a quantidade de carbono em áreas indígenas poderão gerar créditos de carbono que depois de vendidos no mercado mundial garantirão renda extra para indígenas.

As pesquisas sobre a quantidade de carbono estocado estão sendo realizadas na Terra Indígena Pimentel Barbosa (Aldeia Belém), do Povo Xavante no leste de Mato Grosso, por pesquisadores do Laboratório de Ecologia Vegetal do Câmpus da Unemat de Nova Xavantina liderados pelo professor doutor Ben Hur Marimon Júnior. Os estudos, que tiveram início em maio deste ano e a fase de coleta finalizada em agosto, contribuíram com inventários da vegetação, solos e raízes para cálculo do estoque de carbono em uma área de 1.650 ha de cerrado, campos inundáveis e florestas de galeria na Terra Indígena.

De acordo com professor Ben Hur que é doutor em Ecologia, os resultados preliminares revelaram estoques de carbono na vegetação que poderão gerar renda significativa aos indígenas. “Ainda são muito poucos os povos indígenas no Brasil que estão recebendo dividendos por conta do estoque de carbono, justamente pela carência de projetos e estudos como os que estão sendo realizados por meio dessa parceria científica entre o Instituto Kurâdomôdo e a Unemat, Campus de Nova Xavantina, por meio do Programa em Pós-graduação em Ecologia e Conservação”, ressalta Ben Hur.

A coordenação do Projeto Aldeia Sustentável - A’uwë Uptabi é feita pela engenheira florestal, mestre  Cleide Arruda, que é do instituto Kurâdomôdo em Cuiabá, e pelo consultor científico e professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), doutor Roberto Silveira. O projeto tem como objetivo valorizar a floresta em pé, a restauração florestal e a produção sustentável, com uma proposta de redução das emissões de CO2 pelas queimadas. A atual etapa na Aldeia Belém é um estudo piloto que poderá ser replicado às outras demais 17 aldeias da Terra Indígena Pimentel Barbosa.  

O Projeto Aldeia Sustentável - A’uwe Uptabi tem financiamento do Programa Global REDD Early Movers (REM) desde Dezembro/2020. O REM é executado em parceria com o Governo do Estado de Mato Grosso e conta com diversos outros parceiros, como UKaid from the British people, KfW, e tem como gestor financeiro o FUNBIO (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade). Uma parte desses recursos foi destinada aos estudos de levantamentos de crédito de carbono, e custearam parte das despesas dos pesquisadores da Unemat.

Os pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso, já realizam pesquisas sobre o balanço de carbono, vegetação e mudanças climáticas há mais de 20 anos ao longo de toda a transição Amazônia-Cerrado. Nesse período já foram realizados estudos em mais de 4 mil km de fronteira, 47 parcelas de vegetação e mais de 350 mil medições de árvores e solos. Esse know-how da Unemat é que assegurou os dados e levantamento a fim de viabilizar a futura negociação dos créditos de carbono.


O professor Ben Hur explica que se considerar somente o carbono estocado nas árvores do cerrado ralo e das florestas de galeria da área avaliada, os pesquisadores encontraram quase 6 toneladas de carbono por hectare nas porções cobertas por cerrado ralo e 30 ton C/ha nas porções cobertas por floresta de galeria. “Considerando a cotação atual do crédito de carbono, de cerca de 57 euros por tonelada de C, os indígenas poderão ter um potencial de renda de no mínimo 342 euros por hectare, o que daria um total em toda a área de preservação equivalente a cerca de 3,5 milhões de reais nas cotações atuais”, revela o pesquisador da Unemat.

Esses valores serão ainda maiores quando for incluído o carbono estocado no solo e na vegetação herbácea. Os créditos de carbono poderão ser comercializados pelos indígenas no sistema REDD+, um conjunto de ações internacionais de combate ao desmatamento por meio de atividades sociais, de clima e biodiversidade que resultarão na Redução de Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação florestal somados (+) à conservação, manejo sustentável e aumento de estoques de carbono.

Após a conclusão desses estudos, o Instituto Kurâdomôdo fará a intermediação entre representantes indígenas e empresas de comercialização carbono nos sistema REDD+. Ainda não há nenhuma aldeia Xavante recebendo os recursos, justamente por falta de um projeto completo, como o que está sendo feito, e um agente de intermediação. Esta etapa será a próxima, após os resultados finais do projeto, que deverá ser concluído até final deste ano”, explica o professor Ben Hur.

Para os pesquisadores, iniciativas como esta são extremamente importantes e urgentes, especialmente se considerarmos o recente relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), publicado no início do mês de agosto de 2021, que prevê mudanças climáticas mais drásticas, mais frequentes e mais cedo do que se imaginava.

Eles lembram que nessas condições, a manutenção de áreas intocadas, como a que será mantida pelo Povo Xavante da Aldeia Belém, será essencial para contribuir com a mitigação dos impactos negativos causados pelas mudanças climáticas atuais e futuras. “Podemos dizer que essas são medidas que resultam em obrigatoriedade de preservação de ecossistemas, que no momento, estão ameaçados pelas queimadas e liberando carbono para a atmosfera. Com este projeto, os indígenas precisarão de um plano efetivo de proteção destas áreas, algo que eles podem e conseguem fazer”, afirma o professor.

Além do carbono estocado, o Projeto Aldeia Sustentável - A’uwë Uptabi acumulará carbono pelos sistemas agroflorestais (SAF) que estão sendo implantados, como forma de aumentar a renda dos povos indígenas envolvidos. O retorno financeiro será duplo, pois virá com a produção do SAF e com o carbono acumulado nas árvores plantas pelo SAF.


Assessoria de Comunicação - Unemat

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