O Workshop de Gestão da Pós-Graduação Stricto Sensu (Geposs)
da Universidade do Estado de Mato
Grosso (Unemat) que encerrou quarta-feira (11.10) contou com a participação do diretor de Relações
Internacionais da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), professor Rui
Oppermann. A palestra “A
internacionalização como política de qualificação da pós-graduação” realizada pelo diretor, foi mediada
pela pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da Unemat, professora Áurea
Ignácio.
O diretor falou sobre os eixos de
atuação da Capes, dos Desafios do Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG) que é
coordenado pela Capes e protagonizado pelos programas de pós-graduação das instituições
de ensino e pesquisa que envolvem atores de várias naturezas; sobre o estado atual
da internacionalização e seus desafios futuros; além de diplomacia científica.
Oppermann lembrou que o Sistema Nacional
de Pós-Graduação (SNPG) do qual fazem parte as universidades que tem programas
de pós-graduação credenciados pela Capes é um sistema robusto, reconhecido
nacional e internacionalmente pela sua capacidade e qualificação em contribuir
para o desenvolvimento nacional, ao promover a formação de recursos de alto
nível para a produção do conhecimento científico.
Entre os desafios do SNPG estão o
acesso, permanência e conclusão na pós-graduação, uma vez que o percentual de
mestres e doutores na população brasileira ainda é mais baixo do que em países
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) somados a desigualdades
regionais, sociais, étnico-raciais, linguísticas e de gênero no acesso, na
permanência e na conclusão da pós-graduação stricto sensu; a
empregabilidade dos egressos e a aproximação com setor produtivo não-acadêmico;
além de aprimorar a qualidade dos programas na pós-graduação e a formação de
mestres e doutores.
“Nos últimos 10 anos o número de
programas de pós-graduação no SNPG aumentou em mais de 2 mil, hoje temos 4.559
programas com 6.988 cursos de pós-graduação e esse números continuam em crescimento
o que significa dizer que estamos fazendo inclusão, estamos presenciando uma
inclusão a partir do sistema de cotas em todas as intituições públicas de
ensino. Nós temos hoje 79 mil titulados por ano, se pegarmos esses números e
compararmos com a soma de tudo que existe na América Latina e Caribe em termos
de pós-graduação, não alcançam a gente. Nós temos um sistema pós-graduação
maior que todo o sistema de produção Latino-Americano e Caribe. A meta agora é diminuir
as assimetrias no Brasil, uma vez que temos uma grande concentração no Sudeste,
depois vem o Sul e um pouco menos no Nordeste, mas no Centro-Oeste e Norte nossos
números são muito pequenos, injustificadamente pequenos. Nós temos
desigualdades regionais, as sociais, as étnico raciais, linguísticas, de
gêneros”, contou Oppermann.
Uma boa notícia com relação as assimetrias
foi a recente inexigibilidade de proficiência em línguas para o doutorado sanduíche.
“Veja bem, quando um aluno de doutorado fazia doutorado sanduíche, até bem
pouco tempo atrás, precisava fazer um teste de proficiência que custa caro. O sujeito
é cotista, não sabe inglês, vem de uma escola que tem deficiência no ensino de
língua, faz o primeiro, o segundo teste, toma bomba e não tem mais dinheiro para
fazer o terceiro teste. A questão é tão importante porque, às vezes, a gente
não se dá conta que determinadas políticas que a gente executa são políticas
excludentes, apesar do nosso discurso de inclusão. Por isso, agora nós vamos
fazer com que os doutorados sanduíches não precisem de proficiência, e sim de
uma carta do orientador e do coorientador de fora, desde que a universidade parceira
não requeira”.
No tocante aos desafios futuros
na internacionalização, Oppermann apresentou vários, entre eles a garantia da
manutenção dos acordos tradicionais; a reativação no exterior dos programas de
pós-doutorado, professor visitante e apoio a evento; a retomada das políticas
de cooperação Sul-Sul entre América Latina e Caribe, África, Índia e China que
envolvem coopração no âmbito do Mercusol, programas voltados para as áreas
fronteriças, programa dos Centros de Estudo Internacionais Brasil com outros
países, entre outros; reajustar as bolsas no exterior, lançar novo edital do
Programa Estudantes Convênio da Pós-Graduação em colaboração com o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Ministério
das Relações Exteriores (MRE); fomentar um novo programa de internacionalização
em substituição ao Capes-Print em vigor até outubro de 2024, assim como elencou
o cenário atual.
“A gente produz muito e coopera
internacionamente acima da média mas, só 15% da nossa produção tem pelo menos
um outro pesquisador vinculado a uma instituição Sul-Americana, sendo a
Argentina nossa principal parceira com 5,2% dos trabalhos publicados pelo Brasil.
E o reflexo disso é a dependência mais fácil da América Latina e Caribe em
relação aos países do Hemisfério Norte. A internacionalização deve ser
entendida como uma política, não como uma distribuição de bolsa. E essa
política deve promover a inserção da comunidade brasileira no plano internacional
através da cooperação construída de diferentes cenários. No quadro atual da
globalização do conhecimento, a internacionalização é entendida como
instrumento estratégico para a cooperação da produção acadêmica e para a
promoção e desenvolvimento sustentável, econômico e social e a diplomacia científica
faz parte da política de internacionalização”, descreveu Oppermann.
Entre os programas de
internacionalização Oppermann destacou o programa sanduíche como talvez sendo o
programa mais inteligente na ára de internacionalização no âmbito mundial. “Ele
permite que o aluno vá a outro país, desenvolva seus estudos, faça seu
trabalho, crie vínculos e volte trazendo experiência. O doutorado sanduíche é
uma estratégia com custo menor, para alcançar o objetivo de fazer ou criar os
laços permanentes entre pesquisadores de tal maneira que se possa ter o melhor
dos dois mundos. Por isso, a importância de flexibilizar o ir e vir na área da
internacionalização, para que a gente possa ter redução das assimestrias de uma
forma mais intelingente. E a boa notícia é que nós queremos ampliar as bolsas
sanduíche. Nós queremos promover encontros internacionais que permitam o
diálogo entre pesquisadores e entre pós-graduações. A má notícia é que nós estamos
sofrendo uma manutenção de orçamento muito preocupante em função dos ajustes
necessários que precisam ser feitos pelo legado deficitário que a gente
recebeu. Todo o nosso esforço será de fazer com que os recursos disponíveis
sejam aplicados da melhor forma possível. E não existe a possibilidade de se
fazer isso, senão pela criação de redes, redes de cooperação com reciprocidade.
Nós vamos ter que cooperar e isso não é só no Brasil, todos os sistemas de pós-graduação
na Europa estão em redes.
O coordenador do programa de
pós-graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) do câmpus de Cáceres, professor Claumir
Cesar Muniz, concorda com as colocações do diretor de Relações Internacionais
Oppermann, principalmente quando afirma que o Brasil produz muito e necessita
com celeridade ampliar a internacionalização da pós-graduação Sul-Sul. Quanto a
capacidade de transformar essas ações em realidade ele admite não ter isso
muito claro. “Realmente é um desafio e tanto. O idioma ainda é o principal
desafio. Mas admite que a flexibilização de receber alunos com a carta de
aceite entre os orientadores irá ajudar bastante a fomentar esse processo. No PPGCA
nós temos hoje dois alunos com bolsa sanduíche, não fossem as barreiras do
idioma possivelmente teríamos mais, o que ajudaria alavancar nossa produção. Embora
tenhamos muita gente boa que consegue se comunicar o fato de não possuírem o
conhecimento e a habilidade do idioma inglês medido pelo sistema de
qualificação Toefl os impede de contribuir.
O Geposs foi realizado de 9 a 11 de outubro, no auditório da Escola Técnica Estadual da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (ETE/Seciteci), em Cuiabá.
Legenda: Rui Oppermann e Áurea Ignácio durante o Geposs
Fotos: Deivid Fontes
Contato:
imprensa@unemat.br