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Diretor de Relações Internacionais da Capes fala sobre os desafios do Sistema Nacional de Pós-Graduação no Workshop de Gestão da Pós-Graduação da Unemat

Rui Oppermann ministrou a palestra intitulada "A internacionalização como política de qualificação da pós-graduação”

Por Hemilia Maia
13/10/2023

(Foto: Deivid Fontes)

O Workshop de Gestão da Pós-Graduação Stricto Sensu (Geposs) da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) que encerrou quarta-feira (11.10) contou com a participação do diretor de Relações Internacionais da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), professor Rui Oppermann. A palestra “A internacionalização como política de qualificação da pós-graduação” realizada pelo diretor, foi mediada pela pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da Unemat, professora Áurea Ignácio.

O diretor falou sobre os eixos de atuação da Capes, dos Desafios do Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG) que é coordenado pela Capes e protagonizado pelos programas de pós-graduação das instituições de ensino e pesquisa que envolvem atores de várias naturezas; sobre o estado atual da internacionalização e seus desafios futuros; além de diplomacia científica.

Oppermann lembrou que o Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG) do qual fazem parte as universidades que tem programas de pós-graduação credenciados pela Capes é um sistema robusto, reconhecido nacional e internacionalmente pela sua capacidade e qualificação em contribuir para o desenvolvimento nacional, ao promover a formação de recursos de alto nível para a produção do conhecimento científico.

Entre os desafios do SNPG estão o acesso, permanência e conclusão na pós-graduação, uma vez que o percentual de mestres e doutores na população brasileira ainda é mais baixo do que em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) somados a desigualdades regionais, sociais, étnico-raciais, linguísticas e de gênero no acesso, na permanência e na conclusão da pós-graduação stricto sensu; a empregabilidade dos egressos e a aproximação com setor produtivo não-acadêmico; além de aprimorar a qualidade dos programas na pós-graduação e a formação de mestres e doutores.

“Nos últimos 10 anos o número de programas de pós-graduação no SNPG aumentou em mais de 2 mil, hoje temos 4.559 programas com 6.988 cursos de pós-graduação e esse números continuam em crescimento o que significa dizer que estamos fazendo inclusão, estamos presenciando uma inclusão a partir do sistema de cotas em todas as intituições públicas de ensino. Nós temos hoje 79 mil titulados por ano, se pegarmos esses números e compararmos com a soma de tudo que existe na América Latina e Caribe em termos de pós-graduação, não alcançam a gente. Nós temos um sistema pós-graduação maior que todo o sistema de produção Latino-Americano e Caribe. A meta agora é diminuir as assimetrias no Brasil, uma vez que temos uma grande concentração no Sudeste, depois vem o Sul e um pouco menos no Nordeste, mas no Centro-Oeste e Norte nossos números são muito pequenos, injustificadamente pequenos. Nós temos desigualdades regionais, as sociais, as étnico raciais, linguísticas, de gêneros”, contou Oppermann.


Uma boa notícia com relação as assimetrias foi a recente inexigibilidade de proficiência em línguas para o doutorado sanduíche. “Veja bem, quando um aluno de doutorado fazia doutorado sanduíche, até bem pouco tempo atrás, precisava fazer um teste de proficiência que custa caro. O sujeito é cotista, não sabe inglês, vem de uma escola que tem deficiência no ensino de língua, faz o primeiro, o segundo teste, toma bomba e não tem mais dinheiro para fazer o terceiro teste. A questão é tão importante porque, às vezes, a gente não se dá conta que determinadas políticas que a gente executa são políticas excludentes, apesar do nosso discurso de inclusão. Por isso, agora nós vamos fazer com que os doutorados sanduíches não precisem de proficiência, e sim de uma carta do orientador e do coorientador de fora, desde que a universidade parceira não requeira”.

No tocante aos desafios futuros na internacionalização, Oppermann apresentou vários, entre eles a garantia da manutenção dos acordos tradicionais; a reativação no exterior dos programas de pós-doutorado, professor visitante e apoio a evento; a retomada das políticas de cooperação Sul-Sul entre América Latina e Caribe, África, Índia e China que envolvem coopração no âmbito do Mercusol, programas voltados para as áreas fronteriças, programa dos Centros de Estudo Internacionais Brasil com outros países, entre outros; reajustar as bolsas no exterior, lançar novo edital do Programa Estudantes Convênio da Pós-Graduação em colaboração com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Ministério das Relações Exteriores (MRE); fomentar um novo programa de internacionalização em substituição ao Capes-Print em vigor até outubro de 2024, assim como elencou o cenário atual.

“A gente produz muito e coopera internacionamente acima da média mas, só 15% da nossa produção tem pelo menos um outro pesquisador vinculado a uma instituição Sul-Americana, sendo a Argentina nossa principal parceira com 5,2% dos trabalhos publicados pelo Brasil. E o reflexo disso é a dependência mais fácil da América Latina e Caribe em relação aos países do Hemisfério Norte. A internacionalização deve ser entendida como uma política, não como uma distribuição de bolsa. E essa política deve promover a inserção da comunidade brasileira no plano internacional através da cooperação construída de diferentes cenários. No quadro atual da globalização do conhecimento, a internacionalização é entendida como instrumento estratégico para a cooperação da produção acadêmica e para a promoção e desenvolvimento sustentável, econômico e social e a diplomacia científica faz parte da política de internacionalização”, descreveu Oppermann.

Entre os programas de internacionalização Oppermann destacou o programa sanduíche como talvez sendo o programa mais inteligente na ára de internacionalização no âmbito mundial. “Ele permite que o aluno vá a outro país, desenvolva seus estudos, faça seu trabalho, crie vínculos e volte trazendo experiência. O doutorado sanduíche é uma estratégia com custo menor, para alcançar o objetivo de fazer ou criar os laços permanentes entre pesquisadores de tal maneira que se possa ter o melhor dos dois mundos. Por isso, a importância de flexibilizar o ir e vir na área da internacionalização, para que a gente possa ter redução das assimestrias de uma forma mais intelingente. E a boa notícia é que nós queremos ampliar as bolsas sanduíche. Nós queremos promover encontros internacionais que permitam o diálogo entre pesquisadores e entre pós-graduações. A má notícia é que nós estamos sofrendo uma manutenção de orçamento muito preocupante em função dos ajustes necessários que precisam ser feitos pelo legado deficitário que a gente recebeu. Todo o nosso esforço será de fazer com que os recursos disponíveis sejam aplicados da melhor forma possível. E não existe a possibilidade de se fazer isso, senão pela criação de redes, redes de cooperação com reciprocidade. Nós vamos ter que cooperar e isso não é só no Brasil, todos os sistemas de pós-graduação na Europa estão em redes.

O coordenador do programa de pós-graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) do câmpus de Cáceres, professor Claumir Cesar Muniz, concorda com as colocações do diretor de Relações Internacionais Oppermann, principalmente quando afirma que o Brasil produz muito e necessita com celeridade ampliar a internacionalização da pós-graduação Sul-Sul. Quanto a capacidade de transformar essas ações em realidade ele admite não ter isso muito claro. “Realmente é um desafio e tanto. O idioma ainda é o principal desafio. Mas admite que a flexibilização de receber alunos com a carta de aceite entre os orientadores irá ajudar bastante a fomentar esse processo. No PPGCA nós temos hoje dois alunos com bolsa sanduíche, não fossem as barreiras do idioma possivelmente teríamos mais, o que ajudaria alavancar nossa produção. Embora tenhamos muita gente boa que consegue se comunicar o fato de não possuírem o conhecimento e a habilidade do idioma inglês medido pelo sistema de qualificação Toefl os impede de contribuir.

O Geposs foi realizado de 9 a 11 de outubro, no auditório da Escola Técnica Estadual da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (ETE/Seciteci), em Cuiabá.

Legenda: Rui Oppermann e Áurea Ignácio durante o Geposs 

Fotos: Deivid Fontes

 

 

 


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