Os professores Mônica da Cruz e Wellington Quintino, que estudam o status fonológico das vogais da língua Kithãuhlu (Nambikwara), e o aluno Karin Juruna representaram a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) no Symposium on American Indian Languages (Sail), realizado nos dias 4 e 5 deste mês pela Universidade do Arizona (UA), em Tucson, Estados Unidos.
Mônica e Wellington, lotados na Faculdade Intercultural (Faindi) da Unemat, em Barra do Bugres, apresentaram o trabalho “O estatuto fonológico das vogais da Língua Kitãuhlu – povo Nambikwara do cerrado” (em tradução livre) e o pôster da orientanda da professora Mônica, o aluno Karin Juruna com o tema “Peixe na língua Yudja: dos sabores e conhecimentos tradicionais às práticas pedagógicas escolares”.
Segundo Mônica, que também é coordenadora do Centro de Línguas Ameríndias da Unemat, “O que mais me chamou a atenção foi a qualidade dos trabalhos apresentados e o quanto a América desenvolve pesquisa nessa área. Também impressiona o quanto se produz em pesquisa em documentação de línguas indígenas nos Estados Unidos, Alasca e Canadá, entre outros países”.
Symposium on American Indian Languages (Sail)
Idealizado pelo brasileiro manauara Wilson de Lima Silva, professor associado do Departamento de Linguística e Diretor do Programa de Mestrado em Línguas Indígenas e Linguística da UA, o simpósio sobre línguas ameríndias chega à sua décima edição com grande engajamento. Segundo Silva, os países mais presentes nas edições do Sail são os EUA, Canadá e México, com abordagens focadas principalmente na revitalização das línguas indígenas, documentação, aspectos linguísticos e também na troca de experiências de metodologias para ensino das línguas indígenas. “Mas nos últimos anos, o evento que é uma oportunidade para a troca de experiências, estabelecimento de parcerias e intercâmbio de conhecimentos, tem contado com maior participação de outros países do continente americano”.
O evento proporciona um espaço para indígenas e parceiros de toda a América discutirem a documentação, descrição, conservação e revitalização das línguas indígenas. Instituições brasileiras importantes se fizeram presentes no evento como é o caso da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), instituição referência na promoção e proteção dos direitos dos povos indígenas. O servidor da Funai, Cleuber Amaro, apresentou resultados parciais de sua pesquisa em colaboração com o também servidor da Funai, Thiago Santos, ambos da Coordenação-Geral de Tecnologia da Informação (CGTIC).
Amaro, que também é estudante de Tecnologia de Sistemas para Internet, ressaltou a importância do apoio do Instituto Federal de Brasília (IFB) e da Funai na qualificação de seus servidores e participação em eventos de relevância acadêmica.
Cleuber Amaro acredita que o potencial de qualificação de pesquisas e políticas de preservação de línguas seja grande e que as ações de preservação das línguas indígenas são transversais e envolvem vários setores do Estado e da sociedade, por isso, acrescenta que é extremamente positivo que a Funai ocupe esse espaço de discussão a partir da manutenção de iniciativas de apoio à participação de seus servidores, além de buscar estratégias para apoiar a participação também dos povos indígenas envolvidos com o tema.
Segundo a Unesco, o Brasil é o país da América Latina com maior diversidade de línguas nativas faladas. São mais de 170, mais que o dobro do México, em segundo lugar com 67 línguas faladas. Todas elas sofrem algum risco de desaparecimento. A tecnologia e, especial, a inteligência artificial, podem ser boas aliadas para o processo. Contudo, como alerta Thiago Santos Thiago Santos, que possui experiência tanto no trabalho direto com povos indígenas quanto na área de tecnologia, “Não há solução perfeita. É preciso avaliar todos os prós e contras de seu uso a partir da demanda de cada povo, com a participação direta da comunidade e com a validação de todos os produtos. Além disso, é importante ressaltar que a tecnologia pode contribuir para mitigar sintomas de um problema que tem raízes mais profundas e cujas causas passam por questões mais complexas, como é o caso da demarcação das terras”.
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