A área plantada de soja
em Mato Grosso vem crescendo ao longo das últimas décadas, mas esse crescimento
ocorre também em áreas desmatada de forma irregular na Floresta Amazônica, esse
e o resultado da pesquisa de mestrado desenvolvida por Thais Lourençoni no
Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos
(PPGBioAgro) da Unemat sob a orientação do professor doutor Carlos Antonio da
Silva Junior e defendida em fevereiro deste ano e vinculada ao projeto”Monitoramento
da evolução da soja no bioma Amazônia e sua influência no sequestro de carbono utilizando-se
série de tempo e índices de vegetação” aprovado pelo edital universal 2018 do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Como fruto da pesquisa da sua dissertação, a autora juntamente com outros autores publicaram um artigo na renomada revista Scientific Reports (Nature), com o título “Avanço da commodity de soja no Sul da Amazônia com desmatamento via Prodes e ImazonGeo: uma abordagem baseada na moratória”. O artigo na íntegra pode ser acessado aqui. https://www.nature.com/articles/s41598-021-01350-y
O professor orientador
da pesquisa, Carlos Antonio da Silva Junior, explica que o artigo recém publicado
na revista internacional vem um em bom momento, justamente quando se discute
entre outros temas os desflorestamentos na Amazônia brasileira e a
rastreabilidade das commodities produzidas neste bioma, na 26ª
Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26), e quando a
China, um dos maiores mercados dos produtos brasileiro, anunciam que deixaram
de comprar produtos provenientes de áreas desmatadas irregularmente.
“O artigo avalia duas
plataformas muito utilizadas para identificação dos desflorestamentos, o Prodes
(Programa de Cálculo do Desflorestamento na Amazônia) e SAD/ImazonGeo (Programa
de Geoinformação sobre a Amazônia), buscando identificar as áreas em não
conformidade com a Moratória da Soja”, explica o orientador a pesquisa.
Os dados apurados na
pesquisa mostram a expansão da cultura da soja em desacordo com a legislação e
acordo existentes. As pesquisas de modelagem ecológica mostram que se o
desmatamento na Amazônia ultrapassar 20-40%, o clima e a vegetação da Amazônica
atingirão o seu ponto crítico. Atualmente, a floresta já perdeu 20% da sua
cobertura original, que acabaram sendo substituídas por pastagens e lavouras de
solo. A moratória da soja (SoyM) que prevê a não comercialização da soja
oriunda de áreas desmatadas a partir de 2008 e também o Ajuste de Conduta da
Carne (TAC) é uma tentativa de conter o avanço do desmatamento, mas apesar
dessa iniciativa as áreas de floresta que são substituídas por pastagens e soja
vêm crescendo, é o que mostram os dados oriundos de imagens de satélite.
Resultados:
A pesquisa realizada a
partir dos dados dos dois sistemas mostram que a área plantada com soja na
Amazônia mato-grossense tem aumentado ao longo dos anos-safra. Em 2008-2009,
por exemplo, representava apenas 0,05% da soja em desacordo com a SoyM, mas já
na safra 2019-2020 esse desmatamento convertido em área de soja foi de 2,51%,
segundo os dados de soja do GAAF vs Prodes.
Os dados do ImazonGeo, para esses mesmos períodos também demonstram crescimento da área desmatada irregular para dar lugar a área de soja. Na safra 2008-2009 eram 0,004% da área em desacordo, chegando a 1,07% da área na safra 2019-2020.
Se observar esses dados
em área de soja na Amazônia mato-grossense, isso aponta para um total de
1.637.792 hectares em 2008-2009, expandindo para 4.303.791 ha na safra 2019/2020,
“Esses dados demonstram um acréscimo de 2.666.000 ha, ou uma expansão de 2,6
vezes da área plantada neste curto período de tempo”, diz a pesquisa.
Campeões de
desmatamento
Trecho da pesquisa
aponta que os municípios de Feliz Natal, Tabaporã, Nova Ubiratã e União do Sul
apresentam as maiores áreas em desacordo com a moratória, na análise com dados
do Prodes e ImazonGeo.
O município de Feliz Natal, de acordo com os dados do Prodes, teve um desmatamento de 51.496 ha nos anos avaliados, sendo que destes, 11.169 ha foram ocupados com soja em desacordo com a SoyM o que representa 21,68% da soja sobre a área desmatada. Em segundo lugar está o município de Tabaporã com 24.038 ha, dos quais 9.865 ha foram convertidos em área de soja, o que equivale 41,03% de soja sobre a área desmatada.
De acordo com os dados
do ImazonGeo, os dois primeiros municípios com área desmatada foram Feliz Natal
e Nova Ubiratã. No caso de Feliz Natal a área desmatada apontada por essa
plataforma foi de 36.298 ha e a soja ocupou 6.157 desta área, representando
16.97% da soja em área em desacordo com a SoyM. Já o município de Nova Ubiratã
teve 16.697 ha desmatados, e destes 4.786 foram transformados em área de plantio
da commodity, o que representa 30,48% em desacordo com a moratório da Soja.
Soja em área desmatada
de forma irregular
O trabalho de pesquisa
de Thais Lourenconi demonstrou ainda que os dados apontam a evidente conversão
de áreas de floresta em soja durante essa última década. Segundo a plataforma Prodes, foram 108.411
hectares de floresta derrubados para a conversão de área de soja no período das
safras de 2008/2009 a 2019/2020, o que representa 7,81% do total desmatado. Já
os números do ImazonGeo, mostram um total de 46.253 de floresta transformados
em área de plantio, representando 6,3% do total apurado.
Ela lembra que as áreas
de soja na Amazônia no Estado de Mato Grosso cresceram de 1.637.791 hectares em
2008/2009 para 4.303.791 ha em 2019-2020, representando um crescimento de quase
três vezes a área de plantio, ou seja, 2,6 vezes. A partir dessa constatação, o
artigo lembra que a cultura da soja é uma das atividades impulsionadoras da
economia do estado, mas a expansão de suas áreas implica em problemas ambientais
como o desmatamento, que pode ocorrer de forma direta, ou mesmo indiretamente,
quando se ocupa áreas de pastagens que acabam empurrando os pastos para outras
áreas.
Preocupações:
Trabalhos consultados
pela pesquisadora demonstraram que a soja ocupou 2,54% da área desmatada entre
agosto 2015 a julho de 2016 segundo os dados do Prodes. E que entre 2004 e
2005, a soja resultante do desmatamento foi caindo de 20% para 1% em 2014, o
que sugerem, segundo a pesquisa que a Moratória da Soja (SoyM) foi eficiente
nos primeiros anos e continua uma alternativa apesar do aumento progressivo das
taxas de áreas não conformes verificadas pela pesquisa.
Outra preocupação
apontada pela pesquisadora é que mesmo com as políticas ambientais aplicadas
desde 2000, como a expansão de áreas protegidas, a criação do programa de
monitoramento de tempo real (Deter) e a moratória da soja não foram suficientes
para conter o desmatamento a partir de 2013, que pode ser justificado pela
grilagem e desmatamento em assentamentos rurais.
O estudo mostrou que o desmatamento direto para a cultura da soja diminuiu após o acordo, mas o desmatamento indireto dentro da propriedade aumentou e foi responsável por mais da metade do desmatamento associado à expansão da soja desde 2013. Uma das razões para esse aumento é que o SoyM não pune os agricultores pelo desmatamento em suas fazendas que não são convertidas em soja, o que incentiva o desmatamento para outros usos.
Aliada a isso, a
pesquisa também aponta um preocupação com a atual política governamental que
vem reduzindo recursos para órgãos de fiscalização e outras práticas que possibilitaram
mudanças no uso e ocupação do solo na Amazônia.
“Ações do atual governo favorecem a expansão da agricultura na Amazônia.
Possivelmente os agricultores tem expectativa de que o desmatamento atual seja
perdoado no futuro, como ocorreu com o Novo Código Florestal de 2012, que
permitiu a legalização de terras desmatadas ilegalmente até o ano de 2008”,
afirma o artigo.
Por fim a autora chama
a atenção para o fato de tem ocorrido uma tendência de aumento das áreas
desmatadas na Amazônia mato-grossense, decorrentes principalmente das políticas
públicos dos governos anteriores e atuais.
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