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Ameaças ao vampiro-fantasma vão além da sobrevivência da espécie do maior mamífero voador sul-americano

Por Hemília Maia
22/12/2021

(Foto: Julio Miguel Alvarenga da Silva)

O vampiro-fantasma (Vampyrum spectrum), maior mamífero voador sul-americano, está classificado como ameaçado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Protagonista deste estudo do biólogo Facundo Alvarez, doutorando em Ecologia e Conservação na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em Nova Xavantina-MT, esta espécie de morcego chega a um metro de envergadura, e é chamada popularmente de vampiro-fantasma pela dificuldade de ser encontrada em seus habitats naturais. Embora “vampiros” se alimentem de sangue, o vampiro-fantasma é carnívoro e suas presas são pequenos roedores, pequenas aves, insetos e até mesmo outros morcegos.

O estudo The ghost vampire: Spatio-temporal distribution and conservation status of the largest bat in the Americas, em português O vampiro-fantasma: Distribuição espaço-temporal e estado de conservação do maior morcego das Américas, subsidiou o artigo recentemente publicado na revista internacional Biodiversity and Conservation, que publica aspectos da diversidade biológica, sua conservação e uso sustentável.


Apesar do morcego-vampiro-fantasma ter ampla distribuição espacial dentro da região neotropical, que compreende a América Central, a parte sul do México e da Península da Baixa Califórnia, o sul da Flórida, todas as ilhas do Caribe e a América do Sul, ele mostra preferência e alta seletividade por habitat inseridos dentro das florestas de mata virgem, o que significa dizer que essa espécie depende da preservação de florestas para existir. A presença desta espécie rara também é uma maneira indireta de reconhecer ambientes equilibrados, o que a classifica como um indicador biológico de distúrbio.

O estudo vem ao encontro da classificação de espécie ameaçada realizada pela IUCN. Em um esforço internacional, Alvarez e pesquisadores de instituições do Brasil, da Colômbia e México avaliaram a distribuição espacial histórica da espécie e a efetividade das áreas de proteção da Base de Dados Mundial de Áreas Protegidas (WDPA, na sigla em inglês) e constataram que apenas 10% desta espécie de morcego ocorre nas áreas protegidas, destinadas à conservação desta espécie proposta pela WDPA.

Além do Facundo Alvarez, da Unemat, participaram do estudo os biólogos e pesquisadores Sergio Gomes da Silva, Luis Guevara‑Chumacero, Francimeire Fernandes Ferreira, Laura Alvarez Borla, Ricardo Firmino de Sousa e Daniel Paiva Silva dos institutos federais de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) e Goiano (IFGoiano), da colombiana Fundação Bioethos e da mexicana Universidade Autônoma Metropolitana.

 “Nosso trabalho permitiu identificar um problema de base: esta espécie não está sendo conservada, e isto pode vulnerar no futuro a sua presença e distribuição, comprometendo potencialmente as suas populações. Em paralelo, se não mudarmos esta situação, não só vulneraremos a espécie, mas também as espécies de árvores que representam os seus habitat e os recursos de outros elementos da biodiversidade”, considerou o pesquisador.

Para identificar padrões temporais foram utilizados cenários climáticos do passado, presente e projeções futuras o que vem permitindo identificar as quantidades de áreas que a espécie ganha, perde e mantém ao longo do tempo. Os pesquisadores também calcularam a sobreposição das previsões com áreas destinadas à proteção da espécie extraídas desde a WDPA.

“Para resguardar à biodiversidade precisamos adequar as áreas destinadas à sua proteção; incrementando a efetividade de preservação das mesmas, propondo novas áreas ou incrementando a conexão espacial entre áreas já existentes. A conservação desta espécie e de muitas outras está inerentemente conectada à preservação das florestas das quais o vampiro-fantasma depende. Ao conservar esta espécie estaríamos também conservando vários outros elementos da nossa biodiversidade”, explicou Alvarez.

Para o pesquisador ainda resta saber mais sobre os padrões espaciais desta espécie ao longo do tempo, partindo do Último Máximo Glacial, há aproximadamente 20 mil anos, até os dias de hoje, para determinar as áreas de maior estabilidade ou permanência histórica da espécie, assim como conhecer os padrões espaciais do morcego-vampiro frente ao cenário de mudanças climáticas, para avaliar os seus padrões espaciais de presença no futuro e avaliar como as ações do homem podem comprometê-la.

O Brasil tem importante papel na preservação da espécie, uma vez que metade das florestas tropicais do mundo está na Região Amazônica e 65% desse ecossistema está no Brasil. “É preocupante a constatação de que o Brasil é o país tropical com a perda mais significativa de área florestal, ao passo que a Amazônia é o maior e o mais diverso bioma do mundo”, apontou o cientista.


A Amazônia vive sob constante ameaça em função de devastações ambientais, como extração ilegal de madeira, mineração, desmatamento, agropecuária e os efeitos dos fenômenos climáticos intensificados em frequência e intensidade que favorecem a degradação ambiental em direção a áreas protegidas e terras indígenas. “Uma grande extensão espacial da distribuição desta espécie está contemplada dentro deste bioma, e as ações antrópicas que acontecem nele repercutem em diferentes escalas espaciais e temporais afetando elementos diferentes da biodiversidade”, alertou Alvarez.

O argentino Facundo Alvarez é graduado em Ciências Biológicas na Universidade de Havana, em Cuba, mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e atualmente cursa o doutorado em Ecologia e Conservação na Unemat. Alvarez atua como biólogo na Fundação Bioandina, da Argentina.

 


Assessoria de Comunicação - Unemat

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