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Pesquisa comprova que variabilidade genética é maior em áreas restauradas com plantio de sementes nativas

Composição genética variada em área de restauração ecológica garante a proteção dos indivíduos que compõem a vegetação nativa contra doenças e eventos climáticos extremos

Por Ludmila Bauduíno
01/10/2021

Vista aérea de uma floresta de 10 anos, plantada a partir da muvuca, na Fazenda Schneider, zona rural de Querência (MT) (Foto: Assessoria de Comunicação)

Uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat) — câmpus Nova Xavantina (MT), concluiu que árvores nativas de áreas de restauração ecológica que germinaram a partir de sementes coletadas pela Associação Rede de Sementes do Xingu (ARSX) são compostas de alta diversidade genética.

De acordo com o pesquisador, o professor Joaquim Manoel da Silva, a alta composição genética da vegetação nativa que nasce na área da restauração a partir da semeadura direta promove o fortalecimento das espécies contra adversidades, como secas extremas ou doenças causadas por fungos, por exemplo.

As sementes comercializadas pela Rede de Sementes do Xingu são utilizadas na restauração ecológica de áreas degradadas de Cerrado e Amazônia, por meio de uma técnica inovadora e econômica chamada “muvuca”. Trata-se de uma mistura de sementes nativas e de adubação verde, semeadas diretamente no solo já preparado para o plantio e destinado à restauração.

“Com a diversidade genética que foi constatada nas espécies que crescem nas áreas de muvuca, alguns indivíduos terão mais chance de conseguir sobreviver caso haja algum evento extremo. Em comparação, caso um evento desses, como uma doença desconhecida, atinja uma plantação de eucaliptos formada por clones, ou seja, árvores geneticamente idênticas, o mais provável é que todos os clones morram. Quando há diversidade genética entre indivíduos da mesma espécie, abre-se a possibilidade de que elas encontrem maneiras de sobreviver a esses eventos. Por isso é importante reflorestar com diversidade”, explica Joaquim.


Muvuca é uma mistura de sementes nativas e de adubação verde, para semeadura direta na área destinada à restauração ecológica. Na foto, uma muvuca feita na Fazenda Cristo Rei, zona rural de Canarana (MT) (Foto: Guilherme Pompiano/ISA).


Toda essa diversidade genética das sementes coletadas pelos coletores indígenas, agricultores familiares e moradores de cidades no Mato Grosso que compõem a Rede de Sementes do Xingu não é formada por acaso.

Quando um coletor entra para a Rede, ele passa a conhecer e desenvolver técnicas de coleta de sementes e de cuidado com as matrizes (árvores que estão no ápice da produção de sementes nativas de qualidade). Dentre as técnicas praticadas, estão a coleta de sementes de várias matrizes da mesma espécie, de preferência localizadas em regiões diferentes.

A Rede de Sementes do Xingu é composta por grupos de coletas de sementes nativas localizados em diferentes territórios das bacias dos rios Xingu, Araguaia e Teles Pires, no Mato Grosso. Sementes da mesma espécie, coletadas em regiões distintas, são misturadas na muvuca momentos antes do plantio, aumentando ainda mais a carga genética da área que será restaurada.

“Todo esse cuidado acaba refletindo na variabilidade genética das áreas plantadas com muvucas”, diz Bruna Ferreira, diretora-presidente da Associação Rede de Sementes do Xingu.

Guilherme Pompiano, técnico em restauração ecológica e da Rede de Sementes do Xingu no Instituto Socioambiental (ISA), lembra que a diversidade genética que fortalece as plantas não é a única vantagem da muvuca. “O custo por árvore é muito menor. Enquanto plantamos entre 4 e 5 mil – árvores por hectare com a semeadura direta de sementes nativas, em restaurações com mudas, por exemplo, são plantadas entre mil e duas mil árvores”, diz.

As sementes utilizadas na pesquisa vieram de quatro núcleos de coleta em diferentes localidades do Mato Grosso: Nova Xavantina, Porto Alegre do Norte, Santa Cruz do Xingu e Diamantino. Foram realizados testes de germinação em muitas sementes das espécies escolhidas, e extraído o DNA de duas espécies: jatobá-da-mata (Hymenaea courbaril L.) e baru (Dipterix alata Vogel). Essas espécies estão na lista das sementes mais vendidas pela ARSX.

A pesquisa da Unemat, dirigida pelo professor Joaquim, foi realizada em parceria com a Partnerships for Forests (P4F), a Rede de Sementes do Xingu e o Instituto Socioambiental. Parte dos resultados já foram utilizados em uma dissertação de mestrado de um dos membros da equipe de pesquisadores. Os dados também serão aproveitados em uma tese de doutorado. A equipe de pesquisadores deve publicar artigos sobre os resultados em revistas científicas em breve.

Por c, Rede de Sementes do Xingu.


Assessoria de Comunicação - Unemat

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